Sutikshna, o sábio, perguntou para o sábio Agastya:
Oh sábio, seja gentil e me ilumine nesta questão de libertação (moksha); qual
dos dois conduz a libertação: ação ou conhecimento, karman ou jnana?
Agastya respondeu: Na verdade, pássaros só podem voar com suas duas asas; por isso ação e conhecimento juntos conduzem à meta suprema de libertação. Realmente nem só a ação, nem só o conhecimento, pode conduzir a libertação; mas, ambos juntos formam o meio para libertação. Escute, eu narrarei a você uma lenda em resposta para sua pergunta.
A estória de Karunya
Era uma vez, um homem santo chamado de Karunya que depois de ter dominado as escrituras sagradas e compreendido o sentido delas, ficou apático à vida. Quando seu pai, Agniveshya, o viu neste estado, exigiu uma explicação do motivo pelo qual Karunya havia abandonado suas tarefas e deveres diários.
Karunya respondeu: O escrituras não declaram que, por um lado, se deve cumprir as regras das escrituras até o fim de sua vida e que, pelo outro, a imortalidade só pode ser realizada pelo abandono de toda a ação? Oh! meu guru e pai, estou emaranhado entre estas duas doutrinas, o que farei?
Após dizer isto, o jovem permaneceu calado.
Agniveshya disse: Meu filho, escute. Narrarei a você uma lenda antiga. Reflita sobre a moral dessa lenda e então faça como quiser.
A estória de Arishtanemi
Era uma vez, uma ninfa celestial chamada Suruchi, que estava sentada em um cume no Himalaya,
quando viu o mensageiro de Indra, o rei dos deuses, passar voando. Questionado por ela, ele a informou que sua missão era a seguinte.
Um sábio rei, chamado de Arishtanemi, confiou seu reino ao seu filho e estava decidido a executar austeridades incríveis na montanha Gandharmadana. Ao ver esta cena, Indra me pediu para me aproximar dele com um grupo de ninfas e escoltar o sábio rei ao céu. Porém o sábio rei quis saber sobre os méritos e os deméritos do céu. Eu respondi: No céu, o melhor, o mediano e o inferior entre os mortais piedosos recebem recompensas apropriadas, e uma vez que os frutos dos seus respectivos méritos forem exauridos, eles voltam ao mundo dos mortais.
O sábio rei recusou aceitar o convite de Indra de ir para o céu.
Novamente, Indra me enviou ao sábio rei com o pedido para que ele buscasse o conselho do sábio Valmiki antes de rejeitar a oferta.
O sábio rei foi, então, apresentado ao sábio Valmiki e perguntou a ele: Qual é o melhor modo para se libertar do nascimento e morte?
Em resposta, Valmiki narrou para ele o diálogo entre Rama e Vasishtha, o Yoga Vasishtha.
Valmiki disse: Está qualificado para estudar o Yoga Vasishtha aquele que sente: “estou preso, deveria me libertar“, que não é totalmente ignorante nem já é iluminado. Quem pondera sobre os meios para a libertação propostos nesta escritura na forma de estórias, seguramente atinge libertação da repetitiva estória (de nascimento e morte).
Eu havia composto a estória de Rama e a dei ao meu amado discípulo Bharadvaja. Então, uma vez, quando ele foi ao monte Meru, Bharadvaja narrou esta estória a Brahma. O criador ficou muito agradecido e concedeu-lhe uma benção.
Bharadvaja pediu para que “todos os seres humanos possam ser libertados da infelicidade”, e implorou que Brahma encontrasse o melhor modo deste pedido ser atendido.
Brahma disse a Bharadvaja: Vá ao sábio Valmiki e peça a ele continuar narrando a estória do nobre Rama de tal modo que o ouvinte possa ser libertado da escuridão da ignorância.
Não bastando isso, Brahma, acompanhado pelo sábio Bharadvaja, chegou a meu eremitério. Depois que lhe prestei as devidas honras, Brahma disse para mim: Oh! sábio, sua estória de Rama será o barco com que os homens cruzarão o oceano de samsara (da repetitiva estória de nascimento e morte). Por isso, continue sua narração e traga-a a uma conclusão próspera.
Após dizer isto, o Criador desapareceu imediatamente.
Como fiquei confuso com o pedido súbito de Brahma, pedi para o sábio Bharadvaja explicar a mim o que a Brahma havia dito.
Bharadvaja disse que Brahma gostaria que você revelasse a estória de Rama de tal uma maneira que permita a todos ir além de tristeza.
Bharadvaja também rogou a mim que lhe falasse em detalhes, como Rama, Lakshamana e os outros irmãos se livraram de tristeza.
Então, revelei a Bharadvaja o segredo da libertação de Rama, Lakshamana e dos outros irmãos, como também de seus pais e de seus companheiros reais. E, disse a Bharadvaja: Meu filho, se você, também, viver como eles, você também será libertado da tristeza aqui e agora.
Valmiki continuou. Nenhuma libertação da tristeza nem realização da real natureza da pessoa é possível, enquanto a não houver a convicção de que o mundo de aparências é irreal. Esta convicção surge quando se estuda o Yoga Vasishtha com diligência.
Assim inicia o famoso
Yoga Vasishtha...
Em 19 e 20 de maio e 16 e 17 de junho e de 2007, das 9 às 17hs. Através das Professoras Flávia Venturoli de Miranda e Iva Gicovate, o Colegiado Dharmaparishad estará oferendo este tema, Yoga Vasishtha, no Curso de Especialização em Yoga, com aulas teóricas e práticas.
O Yoga Vasishtha é um longo texto de autoria de Valmiki, recheado de estórias ilustrativas, que narra os ensinamentos do sábio Vasishtha a Rama, quando este sofre uma crise existencial, que o leva a uma apátia perante ao mundo. Pois se o mundo é ilusão e tudo é sofrimento, ele vê pouco sentido em agir no mundo. Então a pedido do sábio Vishvamitra, Vasishtha ensina o yoga a Rama, que será sua preparação espiritual para a aventura relatada no Ramayana num prelúdio semelhante ao Gita no Mahabharata.
Publicado no Informativo da IYTA abr/jun - 2007
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próximo ao metrô Alto do Ipiranga
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