Aqui no ocidente, usamos várias técnicas de relaxamento ao final da aula de yoga. Uma dessas técnicas, criada pelo neurologista alemão Johannes Heinrich Schultz em meados dos anos de 1930, é chamada de Treinamento Autógeno, ou T.A simplesmente.
Chama-se Treinamento, porque se deve praticar com assiduidade para conquistar os objetivos propostos. Chama-se Autógeno, porque, após aprender esse método através de um professor ou instrutor apto, o próprio praticante pode fazê-lo sozinho (auto = si próprio + geno = gerar), ou seja ele mesmo se conduz ao relaxamento. A autonomia para alcançar o relaxamento do Treinamento Autógeno faz que alguns autores o associem a uma auto-hipnose. Segundo Hossri (1970), o T. A. pode ser aprendido em grupo para que cada um, treine por si.
Como qualquer técnica de relaxamento, o T.A. é usado com a finalidade de obter relaxamento físico e mental, o que auxilia no combate e prevenção do cansaço, ansiedade, tensão e estresse. Em seu livro sobre T.A., Hossri demonstra graficamente como a tensão emocional afeta-nos e como o T.A. pode ajudar do reestabelecimento do equilíbrio.
Schultz vai mais além, ensina que o T.A. pode ser usado em níveis mais avançados até como prática de autoconhecimento. Por isso, é uma prática utilizada por psicólogos e psicanalistas, em seções individuais, nas quais as experiências vivenciadas durante o T.A. são analisadas.
Assim há 2 níveis do Treinamento Autógeno, que devem ser alcançados gradativamente. Portanto, não se deve, pular etapas:
- nível básico com 6 etapas., cujo objetivo é o relaxamento psíquico e corporal,
- nível avançado com 7 etapas, que trabalha com a imaginação e tem por objetivo o autoconhecimento e o desenvolvimento pessoal.
O T.A., no nível básico, se baseia no exercício de autoindução do relaxamento de vários sistemas do corpo (motor, vascular, cardíaco, respiratório, digestório, neurológico). Durante uma aula de yoga, uso apenas o T.A. básico que é o suficiente para se alcançar o bem-estar procurado pela grande maioria dos alunos.
Interessante notar, como já o fez Schultz, que no Treinamento Autógeno há várias semelhanças com o yoga. Vou resumidamente enumerar algumas que encontrei:
- O treino com dedicação e sem crítica nem julgamento é a própria frase do Y.S. I.12 de Patanjali: “A prática {abhyasa} e o desapego {vairagya} conduzem à cessão (dos turbilhões da mente).”
- A prática do T.A. também se assemelha o que é necessário para ação do yoga {kriya yoga}, descrita no YS II.1: disciplina {tapas}, auto-estudo {svadhyaya}, e “auto-entrega” de se permitir relaxar {ishvara pranidhana}.
- Inicia-se o relaxamento {shaithilya} ao permanecer em uma postura estável e confortável (asana - YS II.46 e 47), ex: deitado ou sentado em uma poltrona.
- O T. A. básico utiliza o foco sensorial no corpo, que em si é um treino para o domínio das sensações (pratyahara - YS.55).
- Ao manter a atenção em cada parte do corpo e em cada etapa da condução (ou da autocondução) pratica-se a concentração (dharana - YS III.1 e 13), cujo trabalho mental produz uma comutação organísmica (segundo Hossri).
- No T.A. avançado as descrições das práticas são muito semelhantes às meditações com visualização, sentimentos e símbolos (como ocorre no samyama do yoga - YS III.17)
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Então vamos a prática!
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Bibliografia
SCHULTZ, J. H. O Treinamento Autógeno. São Paulo: Editora Mestre Jou, 1ª ed. brasileira, 1967
HOSSRI, Cesário Morey. Treinamento Autógeno e Equilíbrio Psicotônico. São Paulo: Editora Mestre Jou, 2ª ed. 1970
Patanjali, Yoga Sutra